segunda-feira, 22 de abril de 2013

O fim de um relacionamento nunca se limita apenas ao casal.

 

Meu telefone parou de tocar. Recentemente, terminei – a contragosto, confesso – um relacionamento de 15 anos. Quase um terço da minha vida e um pouco menos da metade da vida dela. Foi um processo desgastante, lento e doloroso. Com os calos que o desgaste tende a causar na alma, a recuperação vem sendo menos sofrida. Nossa união tornou-se uma sucessão de hábitos e repetições que nos puseram num mundo tão próprio e particular que, agora, é preciso um GPS para reencontrar o universo dos solteiros.

Normal sentir-se perdido. Nessa “mudança estrutural de vida”, para não dizer “o furacão que me arrancou dos alicerces”, poucos amigos mantiveram contato. Eles desapareceram. É provável que tenham aderido à minha outra ex-metade.

O fim de um relacionamento nunca se limita apenas ao casal. A perda se expande. No meu caso, e para alguém que tem apego às mínimas coisas, sofro com as mudanças, por constatar que nada é mais o mesmo. Meu sofá? Esse já era. Minha cama ou minha geladeira ou minha varanda… meu home theater Bose LifeStyle T20, meu cachorro… Putz!! Esse foi objeto de muita briga. Claro que o uso do possessivo “meu” implica “nosso”, o que, nessa situação, continua “dela”. Quando fui fazer o cômputo dos 15 anos, eis o balanço: saí com três malas, dez caixas de livros e minhas coleções de Elton John e Journey.

O mundo aqui fora parece enorme e pronto para minha “reconstrução”. Preciso passar por uma desintoxicação conjugal e deixar que toda aquela carga do relacionamento anterior seja eliminada. Tem funcionado para mim. Não posso reclamar por completo. Minhas carências e necessidades estão sendo supridas, por ora, com o velho e bom sexo seguro de uma ou outra “amiga com benefícios”, assim elas o chamam.
A solidão será temporária. Eu espero. Todo esse turbilhão conduz, no meu caso, a tomar novas decisões. Diferente de no passado, todo esse processo agora só interessa a mim. Não será mais em conjunto. Decido tudo sem consultas. Sou, daqui em diante, o único rei e mestre do meu destino. Faço e desfaço.

Nesse momento de decisões tantas, lembro-me de um dos meus poetas americanos preferidos, Robert Frost, e de seu magistral texto The Road not Taken, que fala que as escolhas mais improváveis podem fazer toda a diferença. Ele relata a existência de dois caminhos num certo bosque, num certo outono. Observando ambas as trilhas em sua extensão até sumirem bosque adentro, percebe que uma era bastante gasta, nela grama já não havia, e a outra parecia querer ser gasta… A primeira, deixou para outro dia, tomando a segunda, menos percorrida, e esta fez toda a diferença.
O poema me causa arrepios e esperança. E, tendo eu escolhido a “trilha menos percorrida”, espero que minha escolha faça toda a diferença e, quem sabe, o telefone volte a tocar.

Tati Bernardi

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